domingo, 30 de março de 2008

Avanços com células tronco embrionárias são promissoras para pacientes com Mal de Parkinson


A doença de Parkinson, que atinge cerca de 2 em cada 1000 pessoas, independentemente de etnia ou condição sócio-econômica, caracteriza-se pela disfunção ou morte dos neurônios produtores da dopamina no sistema nervoso central. Os sintomas geralmente iniciam-se entre 55 e 65 anos de idade, mas em alguns casos antes mesmo dos 40. Embora algumas formas sejam hereditárias (já foram identificados pelo menos 8 genes responsáveis), na grande maioria dos casos a doença de Parkinson é idiopática, ou seja, de causa ainda não esclarecida. Independentemente da causa, substituir os neurônios produtores de dopamina através da terapia celular com células-tronco embrionárias, tem sido o foco de muitas pesquisas e discussões.Um trabalho publicado nesta semana na revista Nature Medicine, por Viviane Tabar e colaboradores, mostrou que camundongos com doença de Parkinson tratados a partir de neurônios derivados de células-tronco embrionárias, melhoraram significantemente seus sintomas. Para conseguir esse feito, os pesquisadores usaram as próprias células dos camundongos afetados para produzir células "embrionárias" através da técnica de clonagem terapêutica.
Como é essa técnica?
A técnica, a mesma que foi usada pelos pesquisadores britânicos Keith Campbell e Ian Wilmut para gerar a famosa ovelha Dolly, consiste em retirar o núcleo de uma célula já diferenciada e colocar em um óvulo vazio, sem núcleo. Se a experiência for bem sucedida, isto é, se o óvulo começar a se dividir, ele readquire as mesmas características de uma célula embrionária. Consegue formar qualquer tecido. É importante lembrar que todo esse processo é realizado em laboratório, sem inserção em útero. Foi esse o caso descrito no artigo da Nature Medicine, desta semana, realizado em camundongos com Parkinson.
Os pesquisadores retiraram células da cauda dos camundongos com Parkinson, inseriram em óvulos de camundongos sem núcleo, produziram linhagens de células-tronco embrionárias e conseguiram diferenciá-las em neurônios dopaminérgicos. Esses neurônios foram então re-transplantados nos animais doentes. A grande vantagem no caso é que ao usar-se as próprias células não há rejeição. De fato os animais que foram submetidos a um auto-transplante melhoraram mais do que aqueles que receberam células obtidas de um outro animal.
Não é uma técnica fácil: Embora a técnica de transferência de núcleos já tenha sido feita com sucesso em vários animais, recentemente com macacos, não é uma técnica fácil. Todos devem se lembrar que o pesquisador coreano doutor Hwang, o primeiro a anunciar o êxito dessa técnica com células humanas, na realidade havia fraudado os dados. Outros grupos afirmam ter conseguido, mas isso ainda precisa ser comprovado. De qualquer modo, essa estratégia poderia abrir perspectivas promissoras para tratamentos futuros. Não só para o Mal de Parkinson como para pessoas que se tornaram paraplégicas ou tetraplégicas por lesões medulares.
E o Brasil como fica?
Se um dia for possível reproduzir essa técnica em seres humanos a grande vantagem será de que estas células podem ser obtidas por meio da clonagem terapêutica ou transferência de núcleos, sem a "polêmica" discussão sobre destruição de embriões. A grande desvantagem? A clonagem terapêutica não foi permitida no Brasil. Estaríamos entre os "excluídos".
Artigo escrito por Dr. Mayana Zatz (Coordenadora das Pesquisas com Células tronco embrionárias)

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